A Fragilidade do Direito: As Lutas Por Direitos e o Mecanismo Imuntário da Soberania

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11117/rdp.v18i97.5053

Palavras-chave:

Luta por direitos, soberania, ação, imunidade, identidade

Resumo

A luta por direitos tem abalado as categorias e conceitos que articulam o nexo entre política e direito. Não obstante, o sentido desse fenômeno permanece pouco explorado para além do exercício do poder soberano, que continua a limitar os horizontes do pensamento jurídico. Diante disso, este artigo tem por objetivo questionar a rede de significações que tem delimitado o papel do direito nos embates entre as ações divergentes e o discurso da soberania. Na primeira parte deste texto, destaca-se a pertinência de se indagar as operações conceituais mobilizadas pelo pensamento jurídico à luz de uma investigação crítico-filosófica do presente. Para tanto, dialoga-se ao longo deste trabalho com Hannah Arendt, Giorgio Agamben, Roberto Esposito e Iris Marion Young. Na segunda parte, considera-se que a ação possui uma gramática própria que, baseada na pluralidade, opera em curto-circuito com o discurso (imunitário) da soberania. Na terceira parte, de acordo com tal discurso, nota-se que o direito se institui como resposta imunitária que, fazendo-se valer da lógica da identidade, permite modular conflitos políticos e sociais, bem como produzir identidades e diferenças, exclusão e inclusão, afirmação e negação. Em confronto com os limites desse mecanismo jurídico, verifica-se que as lutas por direito podem revelar o momento fundacional do direito, enquanto artifício humano, no campo de forças entre estabilidade e fragilidade das coisas humanas. Portanto, convém ao pensamento político-jurídico o exercício crítico de questionar seus limites e bases, tendo em vista que novas fundações são possíveis.

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Biografia do Autor

Roan Costa Cordeiro, Universidade Federal do Paraná

Doutorando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Bolsista da CAPES, Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com bolsa da CAPES, Graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Thais Pinhata de Souza, Universidade de São Paulo

Doutoranda e Mestre em Direito pelo Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Advogada Criminalista, Professora do curso de extensão Mulheres Encarceradas da UFRJ (Núcleo de Direitos Humanos), Consultora do Departamento Jurídico em Direito Antidiscriminatório do Instituto Nelson Mandela - RJ.

Angela Couto Machado Fonseca, Universidade Federal do Paraná

Professora do Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Doutora em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com período de bolsa sanduíche na EHESS (Paris), Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curso de aperfeiçoamento em Epistemologia Moderna e Contemporânea no Departamento de Filosofia da Università degli Studi di Firenze (Itália), Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Publicado

2021-04-30

Como Citar

Cordeiro, R. C., Souza, T. P. de, & Fonseca, A. C. M. (2021). A Fragilidade do Direito: As Lutas Por Direitos e o Mecanismo Imuntário da Soberania. Direito Público, 18(97). https://doi.org/10.11117/rdp.v18i97.5053