OS DISTINTOS COMUNS: TECITURAS TEÓRICAS E A EMERGÊNCIA DE RACIONALIDADES AMBIENTAIS

Autores

Palavras-chave:

Manejo de bens comuns. Comuns. Racionalidade ambiental.

Resumo

O acirramento dos conflitos socioambientais demanda novas formas de compreensão dos regimes de apropriação, manejo e gestão dos bens ambientais. A teoria dos recursos comuns de E. Ostrom realizou uma crítica à tese da Tragédia dos Comuns e aos pressupostos de eficiência da propriedade privada, mas enfatizou os dilemas da ação coletiva e a configuração de arranjos institucionais. No campo de estudos, prevalece a compreensão dos comuns como os recursos ambientais em si, o qual a forma jurídica dedica-se a enquadrar nas normas administrativas de titularidade pública ou privada, reduzindo sua dimensão relacional. Na última década, um conjunto de literatura e de experiências de mobilizações sociais reivindicam a defesa dos comuns como base para proteção do ambiente. O artigo objetiva revisar criticamente a abordagem da teoria dos recursos comuns para investigar eventuais correlações e distinções com a emergente gramática dos comuns nos marcos de uma racionalidade socioambiental emergente, a qual se pretende caracterizar. O estudo realiza revisão de literatura, articulando a teoria de E. Ostrom, com as recentes perspectivas de Dardot e Laval e pesquisadores latino-americanos. Nos resultados, argumenta-se pela necessidade de superação do individualismo metodológico, a importância de incorporar pressupostos da ecologia política e de estudos em profundidade que compreendam o caráter constitutivo das dimensões culturais e simbólicas das relações com o ambiente. Realiza-se uma sistematização desta emergente categoria dos comuns enquanto conceito relacional, não mercantil, instituinte, diversificado em relações em solidariedade, cooperação, convivencialidade, ancestralidade e interdependência.

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Biografia do Autor

Talita de Fátima Pereira Furtado Montezuma, Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Professora do curso de Direito da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Membro do grupo de pesquisa Tramas, vinculado à Universidade Federal do Ceará. Pesquisadora em direito socioambiental.

Raquel Maria Rigotto, Universidade Federal do Ceará

Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1979), especialista em Medicina do Trabalho pela Fundacentro (1980), mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992), doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2004) e pós-doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Maranhão. Atualmente é professora titular do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará..

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Publicado

2019-12-20

Como Citar

Montezuma, T. de F. P. F., & Rigotto, R. M. (2019). OS DISTINTOS COMUNS: TECITURAS TEÓRICAS E A EMERGÊNCIA DE RACIONALIDADES AMBIENTAIS. Direito Público, 16. Recuperado de https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/3375

Edição

Seção

Análises Regulatórias e Temas Contemporâneos